“Eles estavam sendo gananciosos”, afirmou Boris Prokoshev, que era o capitão do navio Rhosus em 2013, quando, segundo ele, o proprietário da embarcação lhe disse para fazer uma parada não programada no Líbano para pegar carga extra.
Uma parada não programada levou à Beirute, capital do Líbano, um cenário de guerra, a forte explosão que atingiu a capital na última terça-feira (4), tirando a vida de pelo menos 145 pessoas, arrastou prédios, casas, mais de 250 mil pessoas desabrigadas, 5 mil pessoas foram feridas, os hospitais em colapso, diversos feridos chegando ao mesmo tempo.
O produto químico que provocou a maior explosão em tempos de paz em Beirute chegou à cidade há sete anos, a bordo de um navio de carga de propriedade de um empresário russo que, segundo seu capitão, nunca deveria ter parado na capital libanesa.

Foi solicitado à tripulação que embarcasse um equipamento rodoviário pesado e o levasse ao porto de Aqaba, na Jordânia, antes de retomar sua jornada para a África, onde o nitrato de amônia deveria ser entregue a um fabricante de explosivos.
Mas o navio nunca deixaria Beirute. Não houve sucesso em carregar com segurança a carga adicional, e depois se desenrolaria uma longa disputa legal sobre taxas portuárias.
“Era impossível”, disse Prokoshev, de 70 anos, à Reuters sobre a operação para tentar carregar a carga extra. “Poderia ter arruinado todo o navio e eu disse que não”, afirmou ele por telefone, de sua casa na cidade russa de Sochi, na costa do Mar Negro.
O capitão e os advogados de alguns credores acusaram o proprietário do navio de abandonar a embarcação e conseguiram que ele fosse detido. Meses depois, por razões de segurança, o nitrato de amônia foi descarregado do navio e colocado em um depósito portuário.
Funcionários em Pisão Domiciliar
A polícia do Chipre interrogou Grechushkin [Igor Grechushkin, Proprietário do Navio Russo] em sua casa no país, nessa quinta-feira (6). Um porta-voz da polícia cipriota informou que um indivíduo, de quem não citou o nome, foi interrogado a pedido da Interpol em relação à carga de Beirute.
As primeiras investigações libanesas sobre o que ocorreu indicaram negligência no manuseio do produto químico potencialmente perigoso.

O governo do Líbano concordou, na quarta-feira, em colocar todos os funcionários portuários de Beirute, que supervisionam armazenamento e segurança desde 2014, em prisão domiciliar.
O chefe do porto de Beirute e o chefe da alfândega disseram que várias cartas foram enviadas ao Judiciário, pedindo que o material fosse removido, mas nenhuma ação foi tomada.
A Reuters não pôde entrar em contato imediatamente com o ministro da Justiça do Líbano para comentar. O Ministério da Justiça está fechado por três dias de luto nacional.
Naufrágio
O navio, que apresentava vazamentos, poderia ter deixado Beirute se tivesse conseguido carregar a carga adicional.
O capitão e três tripulantes passaram 11 meses na embarcação enquanto a disputa judicial se arrastava, sem salários e com suprimentos limitados de comida. Depois que eles saíram, o nitrato de amônia foi descarregado.
“A carga era altamente explosiva. É por isso que foi mantida a bordo quando estávamos lá. O nitrato de amônia tinha uma concentração muito alta”
Disse Prokoshev.
Ele identificou o proprietário do navio como o empresário russo Igor Grechushkin. Tentativas de contato com Grechushkin não tiveram resultado.
O navio Rhosus naufragou no local onde estava ancorado no porto de Beirute, de acordo com e-mail de maio de 2018, de um advogado para Prokoshev, dizendo que a embarcação havia submergido “recentemente”.
Fonte: Agência Brasil